terça-feira, 2 de agosto de 2011

Alguns discentes da UFRB querem garantir suas matrículas 2011.2 e, consequentemente, não querem aula.

Este texto é fruto da minha indignação com um movimento que está sendo divulgado na rede social do Facebook, o Matrícula já! Estudante não é palhaço! cujo objetivo é uma manifestação para reivindicar a matrícula estudantil do semestre 2011.2.

Os servidores técnico-administrativos da UFRB encontram-se em greve assim como os seus pares da UFBA. Motivos justos não faltam. Vide a Carta Aberta À População. Dessa forma, estando os técnico-administrativos em greve, não é possível o funcionamento da Universidade – digo em termos de normalidade. Afinal, qual seria o sentido de uma greve em uma instituição se a mesma permitisse o caminhar normal das coisas? Depois, poderíamos até questionar a necessidade de servidores se a ausência dos mesmos não privasse a Universidade do seu modus operandi. Os rituais acadêmicos como todos os rituais, precisam ser reiterados constantemente. E a Universidade opera através da burocracia e esta só se constitui com todas as peças presentes. Bom, mas continuemos.

Até onde eu entendi, alguns estudantes da UFRB pretendem uma manifestação que busque “providências referentes à matrícula do semestre 2011.2” a fim de que tenhamos as aulas do semestre garantidas. Ainda afirmam que a Manifestação deve levar em conta as considerações da greve não se posicionando contrária a mesma. Por fim, defendem a continuidade da greve, dada a sua relevância, desde quando a matrícula seja garantida e, consequentemente, as aulas aconteçam. Para mim, todo esse posicionamento é problemático, começando pelo nome da própria Manifestação.

Afirmar que estudante não é palhaço porque a matrícula está demorando de acontecer chega a ser uma atitude infeliz. Primeiro, o circo existe há tempos e os espetáculos expropriam direitos bem maiores que os da matrícula. Talvez a greve deste momento seja uma boa oportunidade pra que ele, o circo, pegue fogo. E talvez nós, estudantes, estejamos mais na condição de plateia que de palhaços.

Depois, a matrícula até onde sei, diz respeito àquela burocracia aludida anteriormente. Portanto, em estado de greve, ela também não deve funcionar. Reivindicar por ela pode ser interpretado como um ato de individualismo, tendo em vista que a greve em questão alia interesses não apenas da categoria dos servidores, mas também dos cidadãos, um exemplo é o reclame pela não privatização dos hospitais universitários.

De fato, os interesses entre as categorias têm se individualizado. Não há uma orientação comum pela coisa pública. O que pode ser a causa, inclusive, do distanciamento entre servidores e discentes e a comunicação capenga entre ambos. Apenas ontem, 1º de agosto, recebi a Carta Aberta Aos Estudantes. E aqui reafirmo: falta a busca e também a divulgação de informações sobre a greve.

Mas, o que de fato me indigna não é tanto a tentativa de furo da greve. É a compreensão do papel do discente de uma Universidade Pública existente por trás de tal Manifestação. Querer a matrícula simplesmente para garantir aulas é ter uma visão simplista do nosso processo de formação (já deformado). Parece-me que a visão que se tem da Universidade é a de meramente um espaço de profissionalização. Visão que se conforma ao não entendimento de que um estudante de uma universidade pública tem uma função social e política. O que estudamos não deve ser apenas para formar nosso currículo e para construir uma carreira profissional: deve ser de interesse da sociedade. E aí cabe ver se, inclusive, aquilo que a Universidade entende como interesse social é de fato interesse social e não interesse do mercado. 

Continuando os servidores em greve, mesmo após a matrícula, como vamos garantir a funcionalidade das aulas se os mesmos são partes extremamente necessárias para o bom funcionamento daquelas? Aulões? Como funcionarão os projetos de pesquisa e extensão? (Aliás, como têm funcionado?). 

Estudante de uma Universidade Pública apenas assiste aula? E qual o entendimento de aula pressuposto na Manifestação Matrícula já! Estudante não é palhaço!? Para mim, aula no sentido menos significativo possível: garantir conhecimentos imediatos para a imediata formação profissional. "Matrícula já!". Parece que estamos aceitando passivamente a condição de operadores de máquinas que produzem mão-de-obra qualificada e de forma massificada. Estamos nos reduzindo a um funcionamento mecânico. Estamos nos privando de uma condição viva e crítica.

Eu recebi o convite para a Manifestação na minha página do Facebook. Li o conteúdo da página. Mas me abstive em postar qualquer coisa na página bem como me posicionar na discussão, isto porque não me senti atraída pela chamada da Manifestação. No mais, aqui estou valendo do meu direito de opinião  acerca de um evento público e que diz respeito à categoria da qual faço parte, a estudantil.